segunda-feira, 23 de março de 2009

Periferia: Criando sua própria cultura


"Linguagem e vida são uma coisa só".
(Marcus Vinicius Faustini)

O secretário de Cultura e Turismo de Nova Iguaçu, Marcus Vinicius Faustini, apresentou a temática "A rua como espaço de comunicação e de educação: a experiência no território de Nova Iguaçu", no dia 16, dividindo o espaço com Heloísa Buarque de Hollanda, no auditório da UFRJ.
Para Faustini, a rua é um local de sociabilidade, de encontro. Ela não pode ser o lugar do medo, e sim da integração.

Ainda de acordo com Marcus, a imagem é mais relacionada às classes mais altas, e o som mais ligado às massas. Pelo fato do Estado ter se retirado dos espaços populacionais nos anos 80, as oficinas se tornaram uma estratégia estética para cobrir o déficit educacional. Assim, foram sendo criadas escolas de arte contemporâneas nas periferias.
"Precisamos criar dispositivos para a arte como disparadora de ação, não de representação", disse.

O pobre foi inserido no cinema através da visão das pessoas de outras classes, não via sua própria expressão. A periferia está criando sua própria cultura, deixando de ser representados há muito tempo. Exemplos desta perspectiva são a CUFA e o AFROREGGAE.
Na música, o funk possui a linguagem do dia a dia. É o que chamamos de encorajamento estético, isto é, seu cotidiano pode virar estética. "Também chamamos isto de resignificação subjetiva...Falar de si deve ser encorajado pelo lado artístico", analisou.

Em Nova Iguaçu, a arte virou espaço de mediação, pois as atividades culturais criam interferência: os atores sociais viram agentes culturais sejam na área cinematográfica, artes cênicas, cultura popular, economia solidária ou inteligência coletiva.
Como no caso dos jovens que fazem parte do "Minha rua tem história", parte do projeto Reperiferia. Nele, os menores contam casos ocorridos nos bairros em que moram através de uma oficina de cinema, com animações, documentários etc.

"O territória da periferia visto do ponto subjetivo é carente. O menino da periferia quer encontrar espaços de integração. Assim, a lona cultural do bairro deixa o cidadão lá dentro", comentou Faustini.

Para Marcus, o corpo da favela é negado o tempo todo. "Um menino da favela não circula livremente no shopping com medo de ser reprimido", acrescentou. Desta maneira, o território deve ser local de vivência e de circulação.

Finalizou argumentando que "a natureza da cultura nacional é a mistura. Precisamos fazer algo pelo outro, e mostrar que dobrar a esquina é algo mágico".


4 comentários:

  1. Sou colega de turma do JPPS e adoro blog´s. Acho ótima essa divulgação de pensamentos periféricos. Também escrevi sobre a palestra do secretário, enfatizei no entanto, “as esquinas”. Gostaria de apresentá-la meu espaço virtual. www.visaosuburbana.kit.net
    Parabéns pelo talento com as palavras!

    Gledson V. da S. Machado

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  2. Como ouvinte de exposição do Faustini gostei muito do texto, uma oportunidade para divulgar esta, para mim, surpreendente usina de cidadania, cultura, pedagogia, provocação de novos olhares e empoderamento da criatividade. Um baita exemplo de como emular políticas públicas sociais resignificando o mal estar das iniqüidades. Muito bom também pela criação deste espaço de diálogo.

    Hylton Luz médico homeopata participante do curso JPPS

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  3. Sou sua colega do JPPS e achei muito interessante esse blog. A palestra do Marcus Vinicius Faustini, foi muito interessante, pois acaba despertando na gente a vontade de mostrar pra pessoas de fora da comunidade que além da esquina tem muitas coisas interessantes, não só a violência, mais também tem a cultura e a linguagem da comunidade.
    Patricia Vieira - REDE CCAP. Núcleo de Comunicação

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  4. Estive ontem mais uma vez com Faustini, apresentando-o, e ao trabalho extraordinário que está sendo feito em NI, a duas pessoas, e fico feliz em ver esta conversa estimulante aqui! Carinhosa-mente, Evandro

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