domingo, 5 de abril de 2009

O que os conecta é a música


"Crime é não compartilhar arquivos"

Adriano Belisário (Som Barato) analisou a cultura digital utilizando outras vertentes durante a mesa-redonda realizada pelo curso de Jornalismo de Políticas Públicas Sociais (Netccon. ECO. UFRJ), no dia 30 de março. Por que não compartilhar arquivos? O que as majors e até as gravadoras consideradas indies ganham fechando sites e comunidades de compartilhamento de arquivos musicais? Por que não se adaptar ao novo? Por que ir a favor de uma economia psíquica voltada para o controle...Para TODOS OS DIREITOS RESERVADOS...?


Quando a comunidade do orkut "Discografias" foi retirada do mundo cibernético pela APCM, atitude que considero um colapso psíquico camuflado através da questão do Direito Autoral... (Ou ação defensiva por causa da perda de controle da distribuição musical para as formas alternativas de divulgar composições – bancas de jornal, internet etc), comecei a analisar a questão de outra forma, principalmente depois da palestra do Belisário.


O blog Som Barato estimulava o compartilhamento de arquivos... Era um dos mais famosos da rede (ganhava mais de 6 milhões de acessos desde sua estréia em janeiro de 2007). O mesmo foi retirado do ar pelo Google, empresa que controla o Blogger. O site era conhecido por disponibilizar discos raros da música brasileira, além de apoiar a cena independente nacional.

Situação gerada pela gravadora indie Biscoito Fino (muitos até brincam dizendo que ela é uma indie rica). Algo paradoxal... Uma gravadora independente que grita um discurso de intensificar a criatividade musical...De criar padrões não comerciais para a música...Age como as empresas (grandes gravadoras) que mais critica: impede a circulação de cultura através da camuflagem do Direito Autoral. Continuamos a utilizar padrões impostos anteriormente...Por mais que tentemos assumir um caráter de vanguarda...Um de nossos pés está no passado.

Pegando este gancho, Adriano questionou o caráter livre da internet. Ela não é livre, e muito menos pública. "A liberdade de informação ainda não existe tanto assim no mundo virtual". A internet traz à tona a questão da economia da dádiva de Marcel Mauss. O sociólogo analisava a organização de um complexo de trocas que têm funções sociais, religiosas, econômicas etc...Essas trocas se realizavam entre subgrupos formadores das sociedades primitivas ou arcaicas.

Aplicando esta idéia atualmente, podemos citar a internet como um dos exemplos "mais ou menos bem sucedidos" de uma economia de doação aplicada à informação. A maioria das páginas está disponível para consulta gratuita... Os arquivos contidos nela também eram para estar... Mas, devido ao controle de grandes conglomerados...A informação não circula tão livremente quanto deveria ser.


Como Mauss mesmo já disse, "Presente puro, sem nexo!", as ofertas e presentes não são totalmente desinteressados. Estas ofertas voluntárias fazem parte de uma organização que torna a reciprocidade uma obrigação.

Mas, é claro que muitos atores virtuais trabalham desinteressadamente para compartilhar informações e cultura... "Quando você copia uma música não é crime, crime é não compartilhar", como o próprio Belisário disse.


Acredito como R.Murray Schaffer, que este é o momento da mudança na produção cultural, dando origem a novos ritmos radiofônicos... A música hoje é a pulsação de uma sociedade organizada para satisfazer a um máximo de produção e de consumo... E a internet trouxe a boa nova de que isto será temporário. Novos ritmos alternativos estão mais próximos do que imaginávamos.


"Uma idéia nunca morre. Derrubam um blog, derrubam um link, derrubam casas, mas a idéia continua lá. E o Som Barato voltou, e voltou porque ele é uma idéia. Uma idéia de partilha, uma idéia de que os bens podem ser comuns, uma idéia de uma festa permanente embalada pela diversidade de sons que a natureza humana é capaz de produzir, mas que a indústria insiste em abafar com suas técnicas monopolistas". (SomBarato.org.br).








Fazer outra comunicação não é fácil...


Como construir uma mídia livre aliada das políticas públicas? Este foi o tema da mesa-redonda do curso de Jornalismo de Políticas Públicas Sociais (Netccon.UFRJ.ECO), no dia 30 de março. Gustavo Barreto (Editor do Consciencia.Net e do Fazendo Media), Adriano Belisário (SomBarato) e Andreas Behn (Coordenador da Agência Pulsar) fizeram parte da discussão.

Gustavo analisou o novo modelo de Comunicação, de caráter descentralizado e não linear. Segundo Barreto, existe uma dificuldade no conceito de Mídia Livre e até mesmo no movimento de mesmo nome. E, esta problemática foi explicada pelo professor e mediador da mesa, Evandro Ouriques: "Quando aos movimentos sociais sempre existe um inimigo externo, jogamos tudo para uma orientação metafísica...Como, no caso, a Globo. Achamos que a Rede Globo aliena, que ela cria padrões comerciais"...salientou.

Para Gustavo, a sociedade ainda repete as ações de acordo com padrões criados no século passado. Mas, mesmo assim, existem novas formas de atuação do jornalismo, como a guerra da informação durante a invasão do Iraque, com a utilização dos mass medias alternativos.
Para Ouriques, há uma proliferação e ramificação dos coletivos sociais, principalmente com a vinda da internet e seu caráter rizomático e descentralizado.

A opinião de Gustavo Barreto sobre o Fórum de Mídia Livre é a seguinte:"É uma rede social composta por duas mil pessoas, estamos em estágio imaturo e incipiente...Pois, não discutimos o modelo de formação...Estamos no mesmo padrão de antes".

Andreas Behn comentou sobre a Pulsar-Brasil, um agência informativa que faz parte do movimento de rádios comunitárias e livres. A Agência radiofônica produz diariamente notícias e áudios para todos os radioapaixonados. A Pulsar é um projeto da Associação Mundial de Rádios Comunitárias, região da América Latina e Caribe. As principais pautas são relacionadas aos movimentos sociais e a democratização da informação. Segundo Behn, ainda existe um desconhecimento por parte das pessoas do termo "mídia alternativa". "Aqui no Brasil, existe um monopólio da mídia", relatou.

Ainda de acordo com Behn, todos deveriam ter acesso à comunicação alternativa, com recursos financeiros e humanos suficientes para produzir trabalhos de qualidade. Também há uma falta de imaginação para a produção de programas, os quais sempre possuem a mesma linha comercial. Segundo ele, os cursos de Comunicação Social são voltados para formar comunicadores que trabalharão em mídias comerciais. "Fazer outra comunicação não é fácil", analisou, "temos de fazer como a Bolívia e Venezuela, países questionadores da mídia...Devemos entender a importância das rádios comunitárias e outros atores para a democratização da comunicação".