Adriano Belisário (Som Barato) analisou a cultura digital utilizando outras vertentes durante a mesa-redonda realizada pelo curso de Jornalismo de Políticas Públicas Sociais (Netccon. ECO. UFRJ), no dia 30 de março. Por que não compartilhar arquivos? O que as majors e até as gravadoras consideradas indies ganham fechando sites e comunidades de compartilhamento de arquivos musicais? Por que não se adaptar ao novo? Por que ir a favor de uma economia psíquica voltada para o controle...Para TODOS OS DIREITOS RESERVADOS...?
Quando a comunidade do orkut "Discografias" foi retirada do mundo cibernético pela APCM, atitude que considero um colapso psíquico camuflado através da questão do Direito Autoral... (Ou ação defensiva por causa da perda de controle da distribuição musical para as formas alternativas de divulgar composições – bancas de jornal, internet etc), comecei a analisar a questão de outra forma, principalmente depois da palestra do Belisário.
O blog Som Barato estimulava o compartilhamento de arquivos... Era um dos mais famosos da rede (ganhava mais de 6 milhões de acessos desde sua estréia em janeiro de 2007). O mesmo foi retirado do ar pelo Google, empresa que controla o Blogger. O site era conhecido por disponibilizar discos raros da música brasileira, além de apoiar a cena independente nacional.
Situação gerada pela gravadora indie Biscoito Fino (muitos até brincam dizendo que ela é uma indie rica). Algo paradoxal... Uma gravadora independente que grita um discurso de intensificar a criatividade musical...De criar padrões não comerciais para a música...Age como as empresas (grandes gravadoras) que mais critica: impede a circulação de cultura através da camuflagem do Direito Autoral. Continuamos a utilizar padrões impostos anteriormente...Por mais que tentemos assumir um caráter de vanguarda...Um de nossos pés está no passado.
Pegando este gancho, Adriano questionou o caráter livre da internet. Ela não é livre, e muito menos pública. "A liberdade de informação ainda não existe tanto assim no mundo virtual". A internet traz à tona a questão da economia da dádiva de Marcel Mauss. O sociólogo analisava a organização de um complexo de trocas que têm funções sociais, religiosas, econômicas etc...Essas trocas se realizavam entre subgrupos formadores das sociedades primitivas ou arcaicas.
Aplicando esta idéia atualmente, podemos citar a internet como um dos exemplos "mais ou menos bem sucedidos" de uma economia de doação aplicada à informação. A maioria das páginas está disponível para consulta gratuita... Os arquivos contidos nela também eram para estar... Mas, devido ao controle de grandes conglomerados...A informação não circula tão livremente quanto deveria ser.
Como Mauss mesmo já disse, "Presente puro, sem nexo!", as ofertas e presentes não são totalmente desinteressados. Estas ofertas voluntárias fazem parte de uma organização que torna a reciprocidade uma obrigação.
Mas, é claro que muitos atores virtuais trabalham desinteressadamente para compartilhar informações e cultura... "Quando você copia uma música não é crime, crime é não compartilhar", como o próprio Belisário disse.
Acredito como R.Murray Schaffer, que este é o momento da mudança na produção cultural, dando origem a novos ritmos radiofônicos... A música hoje é a pulsação de uma sociedade organizada para satisfazer a um máximo de produção e de consumo... E a internet trouxe a boa nova de que isto será temporário. Novos ritmos alternativos estão mais próximos do que imaginávamos.
"Uma idéia nunca morre. Derrubam um blog, derrubam um link, derrubam casas, mas a idéia continua lá. E o Som Barato voltou, e voltou porque ele é uma idéia. Uma idéia de partilha, uma idéia de que os bens podem ser comuns, uma idéia de uma festa permanente embalada pela diversidade de sons que a natureza humana é capaz de produzir, mas que a indústria insiste em abafar com suas técnicas monopolistas". (SomBarato.org.br).